As abelhas e a produção de alimentos

Entenda qual é o papel desse polinizador nas culturas agrícolas e por que devemos preservá-lo

Apesar de ter contato com apiários desde os sete anos de idade, foi somente em 2007 que o publicitário Daniel Malusá Gonçalves tomou conhecimento sobre o declínio da população de abelhas em vários países do mundo. “O universo das abelhas sempre esteve muito presente na minha vida. Venho de uma família de apicultores. Mas, foi pela primeira vez, num Congresso Internacional na França, que ouvi sobre o problema num ambiente totalmente científico e aquilo me chamou atenção, porque no Brasil nada estava sendo feito a respeito disso”, conta Gonçalves.

Passados alguns anos, em 2012, em participação ao Festival de Cannes, o publicitário observou que muitos trabalhos apresentados no evento tinham como propósito o empoderamento de campanhas de cunho social. E a partir daí, resolveu usar sua experiência como publicitário para chamar atenção para o problema e criar uma campanha de conscientização e proteção às abelhas da América Latina. Por meio da organização não governamental Bee or not to be, foi lançada em 2013 a campanha “Sem Abelha, Sem Alimento”.

“Nosso objetivo é conscientizar a sociedade para a importância das abelhas, e alertá-la para os riscos do declínio destes polinizadores”, diz Gonçalves. “Em agosto desse ano, o IBOPE Inteligência realizou uma pesquisa que constatou que 78% da população brasileira desconhece ou nunca ouviu falar de polinização”, informa. “O que essa pesquisa mostra é que a maioria não sabe que o principal serviço ecossistêmico das abelhas é a polinização. As pessoas só associam a abelha ao mel e à picada, o que é uma grande desinformação. Mais de 3000 espécies não picam”, completa.

Ações

Desde que a Campanha foi criada, algumas ações já foram realizadas. Uma petição pública entregue para o IBAMA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Meio Ambiente e a lideranças do meio apícola, solicita que medidas sejam tomadas visando a preservação das abelhas. Entre os problemas destacados na petição que provocam o declínio desses polinizadores estão – o uso indiscriminado de agrotóxicos (e também de pulverização aérea); a degradação de áreas verdes e questões climáticas. “Esses são os principais”, diz Gonçalves.

Outra linha trabalhada pela “Sem Abelha, Sem Alimento” é a educação ambiental. “Desenvolvemos um material – um caderno de educação ambiental e também um vídeo – direcionados a professores e alunos de idade de 8 a 11 anos. É um material de cunho pedagógico que trata a questão da educação ambiental a partir da ótica das abelhas”, explica o publicitário.

A Campanha lançou também em 2014 o aplicativo Bee Alert. A ferramenta, gratuita, é direcionada a apicultores, meliponicultores e a comunidade científica, que podem registrar e documentar nesta plataforma as ocorrências de desaparecimento ou morte de abelhas em todo o mundo, indicando local, intensidade e possíveis causas. “A ideia do aplicativo é contribuir com o estudo do problema e buscar as causas”.

Para quem está na cidade, a Bee or not to be sugere uma série de atividades para quem quer ajudar nesse trabalho de preservação das abelhas como, por exemplo, “Consuma produtos orgânicos”; “Plante árvores e cultive flores”; “Questione sobre o problema”, entre outras.

Polinização e produção de alimentos

A polinização é o processo que garante a produção de frutos e sementes e a reprodução de diversas plantas. Entre os polinizadores estão as abelhas, vespas, borboletas, pássaros, morcegos e outros animais, que são responsáveis pela transferência dos grãos de pólen das flores masculinas para os receptores das flores femininas.

As abelhas, no entanto, desenvolvem um papel fundamental, já que 70% das culturas agrícolas e 85% de toda flora existente na natureza dependem dos polinizadores. “É de extrema importância que o produtor rural também volte seu olhar pra isso, porque a perda das abelhas também vai prejudicar de forma séria sua atividade”, alerta Gonçalves.

Lançamento

Como parte das ações da “Sem Abelha, Sem Alimento”, será lançada em 11/12 a Campanha “Cidade Amiga das Abelhas”, em Franca, interior de S. Paulo. Na ocasião, será inaugurado o maior meliponário do Brasil.

Com o propósito de sugerir às prefeituras ações de gestão pública para preservação das abelhas, a Campanha recomenda, por exemplo, mel na merenda escolar, práticas de resgate de enxames na cidade, orientações de poda e corte de árvores que tenham enxame de abelhas, o estímulo à realização de feiras orgânicas e hortas, entre outras ações.

Leia também – A Síndrome do Desaparecimento das abelhas

Para outras informações sobre a Campanha “Sem Abelha, Sem alimento”, acesse www.semabelhasemalimento.com.br