Diminuição de 250 mil colmeias afeta a produção de mel no Estado (RS)

Diminuição de 250 mil colmeias afeta a produção de mel no Estado (RS)

Muita chuva e vento no ano passado e uso excessivo de agrotóxico nas lavouras podem ser a causa da mortandade de 50% das abelhas

por Joana Colussi, Jornal Zero Hora ; 13/01/2015 | 05h02

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/campo-e-lavoura/noticia/2015/01/diminuicao-de-250-mil-colmeias-afeta-a-producao-de-mel-no-estado-4679610.html

A combinação infeliz de uma primavera chuvosa com a ação de defensivos agrícolas é a causa apontada para o desaparecimento de quase 250 mil colmeias no Rio Grande do Sul no ano passado — o que equivale a uma mortandade de quase 50% do total. Maior produtor brasileiro de mel, o Estado foi drasticamente afetado pela redução da colônia de insetos. A frustração nos apiários acende o alerta sobre o risco de despovoamento das abelhas, responsáveis por boa parte da polinização necessária para diferentes culturas agrícolas.

Em anos considerados normais, a taxa de mortalidade aceitável é de até 15%. O percentual superior registrado no Estado é atribuído por especialistas ao excesso de umidade e ao crescente uso de agroquímicos nas lavouras.

— O clima não é a única causa da mortandade. O aumento do uso de defensivos, altamente eficientes na agricultura, influencia na saúde das colmeias. A expansão de monocultivos, associada a defensivos, requer monitoramento para não comprometer a longevidade das abelhas explica Aroni Sattler, professor de Apicultura da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A mortandade, uma preocupação mundial, foi verificada em todas as regiões do Estado, da Metade Sul à região dos Vales. A atividade, no Rio Grande do Sul, envolve 40 mil produtores — município gaúcho com a maior produção de mel é Santana do Livramento. Com a chuvarada e a ventania que marcaram a primavera gaúcha faltou alimento para as abelhas, tornando-as mais suscetíveis à ação de defensivos usados em plantas que servem de alimento para elas. A floração prejudicada pela umidade fez com que o rendimento de mel por colmeia não chegasse a cinco quilos. A média gaúcha anual é de 20 quilos por colmeia, resultando em 10 mil toneladas de mel.

— Os apicultores colheram de 10% a 15% do volume esperado. Problemas localizados são normais. O que ocorreu neste ano foi inédito — assegura Aldo Machado dos Santos, presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul.

Reportagem ZH RS

A esperança está depositada na safra de outono, quando os apiários poderão ser repovoados para produção de mel a partir de março. Cada colmeia morta representa prejuízo de R$ 500. Quem se antecipou conseguiu diminuir as perdas. Apicultor em Paverama, no Vale do Taquari, Celso Borba, 48 anos, forneceu alimentação artificial às abelhas e registrou mortandade inferior a 15%. Com a suplementação proteica e melhoramento genético da abelha-rainha, alcançou o rendimento de 20 quilos por colmeia.



Expansão da atividade depende de qualificação

Materia ZHCom mais de 80% da produção com origem na agricultura familiar, a apicultura no Estado vem se profissionalizando para se enquadrar em programas voltados à agroindústria. Por meio da formalização, individual ou em modelos associativos, os produtores podem aumentar o valor do mel comercializado e expandir significativamente os pontos de venda.

— A tendência é esta: legalizar a produção e conquistar mercados em supermercados e feiras do setor — ressalta Paulo Francisco Conrad, assistente técnico da Emater na área de apicultura.

Conforme Conrad, somente cerca de 20% da produção gaúcha é tecnificada, com manejo e caixas adequadas, melhoramento genético das abelhas-rainha, substituição de favos e controle da alimentação. Esse percentual de apicultores consegue obter uma produtividade de até 40 quilos de mel por colmeia ao ano — o volume representa o dobro da média estadual alcançada atualmente.

— Em torno de 60% da produção gaúcha vem dessa parcela tecnificada, que tem na venda de mel a sua principal fonte de renda — estima Conrad.

Da profissionalização resultam as agroindústrias do setor. Com 33 pontos de venda em Estrela, o produtor José Horn, 64 anos, participa de cursos técnicos e seminários para se aperfeiçoar na atividade. Na venda direta ao consumidor, o quilo do mel sai por R$ 12, preço médio vendido no Estado, segundo a Emater.

— É preciso buscar informação e técnica. Se eu não tivesse feito alimentação artificial nas colmeias, perderia boa parte da produção neste ano — conta o apicultor, proprietário do Apiário Horn, que tem uma produção média de 4 mil quilos por ano.

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