Revista Globo Rural: ONU alerta sobre o desaparecimento de polinizadores e pede medidas urgentes
Cerca de 75% das plantações precisam total ou parcialmente do trabalho de insetos como abelhas e borboletas
“Há uma série de razões que explicam o declive, como a mudança do uso do solo, o uso de pesticidas e a mudança climática. Não se pode dizer que há uma ameaça maior que outra para cada animal polinizador ou para cada lugar do mundo onde estão desaparecendo. É um conjunto de ameaças”, disse.
O relatório, intitulado “Avaliação Temática sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos”, é o primeiro feito pelo IPBES e é fruto de dois anos de trabalho do organismo da ONU que foi fundado há quatro e é integrado por 124 países, incluindo o Brasil.
Existem milhares de espécies que são polinizadoras, animais que transportam pólen do órgão masculino de uma flor ao estigma, o órgão feminino, o que permite a fertilização. Nos últimos anos, os cientistas observaram o alarmante desaparecimento das abelhas, das que existem mais de 20 mil espécies silvestres, e borboletas, especialmente na Europa Ocidental e na América do Norte, o que foi atribuído a pesticidas e ao crescente uso de plantas modificadas geneticamente.
O relatório confirmou que pesticidas, incluindo os neonicotinoides – quimicamente relacionados à nicotina -, representam uma ameaça mundial para os polinizadores, apesar de seus efeitos em longo prazo ainda não serem conhecidos.
O IPBES destacou a importância econômica dos organismos polinizadores ao assinalar no estudo que 75% dos cultivos para alimentos do mundo dependem, pelo menos parcialmente, da existência de polinizadores. O valor anual dos cultivos diretamente afetados por polinizadores é estimado entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões.
“Os polinizadores são grandes colaboradores da produção mundial de alimentos e segurança nutricional”, disse Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, professora de Ecologia no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e uma das diretoras do relatório de IPBES.
Segundo ela, o relatório “oferece opções sobre o que fazer de acordo com o problema específico de cada lugar do mundo em relação aos polinizadores, a polinização e a produção de alimentos”. Entre as soluções estão a criação de uma maior diversidade dos habitat dos polinizadores tanto no ambiente rural quanto no urbano, o apoio a práticas tradicionais de rotação de cultivo e manutenção de áreas não exploradas e a redução da exposição dos polinizadores a pesticidas.
O professor holandês Koos Biesmeijer, um dos autores do relatório, reconheceu que existem “vazios de conhecimento” com relação com a finalidade dos pesticidas e outros fatores que impactam negativamente nos polinizadores. “Embora não saibamos tudo, em muitos casos, há claras conclusões”, afirmou.
A professora da USP, por sua vez, destacou a gravidade da situação. “Deveríamos atuar agora para deter o declive dos polinizadores”, afirmou.
Já o vice-presidente do IPBES acrescentou que todas as ações, desde as que podem ser tomadas por agricultores até às que podem ser feitas pelos governos, poderiam começar o quanto antes. “Não precisamos de novas tecnologias. Todas estas são opções que podem nos ajudar a sair na frente”, alertou.
Ele deu com exemplo o efeito negativo que têm as grandes extensões de monoculturas.
“Necessitamos uma agricultura mais sustentável. Eliminemos esses enormes extensões de monoculturas e asseguremos que estão salpicadas com zonas de habitat natural que atrairão os polinizadores nos campos de cultivo”, concluiu.
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