Parecer da CBA sobre o desaparecimento das abelhas e suas consequências para o agronegócio e o uso dos pesticidas neonicotinóides
Apoio a manutenção das restrições impostas pelo IBAMA sobre o uso dos Pesticidas
Em nome dos apicultores e meliponicultores do Brasil a CBA protocolou no MMA, IBAMA, MAPA, parecer técnico de apoio a manutenção das restrições impostas pelo IBAMA (publicada no Diário Oficial da União de 19/07/2012) sobre o uso dos pesticidas; IMIDOCLOPRID, CLOTHIANIDINE, THIOMETHOXAM E FIPRONIL comprovado como altamente tóxico para as abelhas e envolvidos no fenômeno do desaparecimento das abelhas em vários países, inclusive no Brasil. Estes danos também ocorrem nos demais polinizadores. Agradecemos o Dr.Lionel Segui Gonçalves – Presidente da Comissão Técnico Cientifica na elaboração do documento.
José Cunha – Presidente
PARECER DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE APICULTURA SOBRE O DESAPARECIMENTO DAS ABELHAS (CCD), SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O AGRONEGOCIO E O USO DOS PESTICIDAS NEONICOTINÓIDES
Atualmente o maior problema da apicultura mundial relaciona- se ao já conhecido “Desaparecimento das Abelhas” ou “Síndrome do Colapso das Abelhas (Colony Collapse Disorder ou CCD). Tal assunto tem sido motivo de preocupação das autoridades e cientistas do mundo inteiro, sendo hoje um tema muito explorado pela mídia internacional e tema de muitos congressos. Em setembro de 2011 a Federação internacional dos apicultores “APIMONDIA”, que congrega hoje 75 países participantes, realizou em Buenos Aires, Argentina mais um congresso internacional no qual o tema desaparecimento das abelhas foi novamente amplamente discutido. Desde 2007 este tema tem sido debatido nos congressos internacionais da Apimondia face o grande prejuízo que o desaparecimento das abelhas vem causando para a agricultura mundial. A milenar exploração da apicultura pelo homem é tradicional pelos benefícios que ela proporciona tanto aos seres humanos na produção de alimentos como para a natureza, graças principalmente a capacidade de polinização das abelhas que contribuem para a reprodução das plantas e, consequentemente, para o aumento das áreas verdes na face da terra cujas plantas garantem a nossa sobrevivência e dos animais em geral. Infelizmente o fenômeno do desaparecimento das abelhas vem crescendo em todos os continentes e o mundo todo está em estado de alerta. Devemos lembrar que o então premio Nobel de Física, o cientista Albert Einstein profetizou em seu tempo que, se as abelhas desaparecessem da face da terra, pouco depois os homens também sucumbiriam. Infelizmente tal profecia corre um alto risco de se concretizar face ao atual fenômeno do colapso das abelhas ou desaparecimento das abelhas que vem sendo observado atualmente nos Estados Unidos, na Europa e em alguns países da América do Sul, inclusive já com vários casos com perdas significativas no Brasil.
Com isso o agronegócio apícola está em crise no mundo e o setor apícola de vários países tem sofrido um enorme impacto global, assunto que tem merecido uma atenção muito especial dos especialistas em patologia apícola e comportamento das abelhas. Esta síndrome corresponde ao desaparecimento repentino das abelhas ou a redução, em poucos dias, do tamanho da colônia com rainha, mesmo na presença de crias, pólen e mel, porem sem deixar vestígios de morte de abelhas. O CCD vem causando sérias baixas no número de colônias de Apis mellifera nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Índia bem como em alguns países da Europa e da América do Sul (Oldroyd, 2007; Engelsdorp, van et al. 2008, Aizen & Harder, 2009, Potts et.al. 2010). Na Europa já foram registradas perdas de abelhas na França, Espanha, Itália, Suíça, Suécia, França, Alemanha, Áustria, Polônia, Inglaterra, Eslovênia, Grécia e Bélgica (Gonçalves, 2012). Portanto, é perfeitamente previsível o prejuízo que a falta de abelhas para a polinização causará para a agricultura. Segundo o pesquisador brasileiro Dr. Dejair Message (informação pessoal) no Brasil já foram detectados vários casos de desaparecimento de abelhas, tanto de abelhas africanizadas como de abelhas sem ferrão. Um dos primeiros casos foi detectado em 2008 pelo pesquisador O. Malaspina (informação pessoal) em Brotas, no Estado de São Paulo, ocasião em que um apicultor perdeu mais de 200 colônias de abelhas africanizadas após uma avioneta ter pulverizado com o inseticida Thiomethoxam uma cultura de laranja. Durante um Simpósio sobre Sanidade Apícola realizada em Abril de 2012 em Florianópolis-SC o Presidente da Federação dos Apicultores de Santa Catarina denunciou perdas de 50 a 90% de abelhas prestes a serem transportadas para culturas de maçã devido ao CCD. Os apicultores presentes ao Simpósio informaram que poucos meses antes de levarem suas colmeias para o campo de polinização de maçã, e em alguns casos poucos dias antes, as colônias estavam bem populosas mas no momento do transporte detectaram altas perdas e muitos casos com colmeias vazias, sem aparência de saques ou de doença, características que se assemelham ao diagnóstico do CCD. Nos Estados Unidos o valor do serviço de polinização pelas abelhas na agricultura tem sido estimado como superior a 20 milhões de dólares, sendo que mais de três quartos das plantas de interesse econômico conhecidas são polinizadas por insetos entre os quais as abelhas Apis mellifera e 1/3 do alimento que comemos são proveniente de plantas polinizadas pelas abelhas, daí a importância das abelhas para a agricultura e a grande preocupação mundial pelo desaparecimento delas, o que já vem ocorrendo em muitos países. Segundo Engelsdorp et all (2008, 2010) apenas nos Estados Unidos houve, entre 2007 e 2008, uma perda ao redor de 1 milhão de colônias de abelhas Apis mellifera, sendo que 21 estados americanos registraram perdas oscilando entre 19% e 52%, com uma perda média ao redor de 36%, o que consideramos como muito preocupante, uma vez que ainda não se tem uma previsão para seu controle. Em 2010 e 1011 continuaram sendo registradas perdas de abelhas nos USA como também na Europa e América do Sul (Carreck, N.L. 2011, Kristiansen, P. 2011, Potts et all. 2010). As causas desse desaparecimento são ainda motivos de ampla discussão em congressos, simpósios e seminários de apicultura em vários continentes. Embora haja uma polêmica no assunto sobre a causa principal do desaparecimento das abelhas, vários são os fatores apontados como causadores desse fenômeno, porém com bastante destaque vem aparecendo ultimamente os agrotóxicos pesticidas utilizados indiscriminadamente na agricultura, em especial os neonicotinoides como por exemplo o Imidocloprid (gaucho ou confidor), o Thiamethoxan (cruizer) e o Clothianidine (poncho) etc. (Permanent Peoples’ Tribunal 2011).Esses inseticidas apresentam atividades enzimáticas que atuam na fisiologia das abelhas como por exemplo no olfato, na memória etc. causando distúrbios comportamentais. Com relação a memória as abelhas passam a ter dificuldades de orientação durante as atividades forrageiras cujos efeitos atuam no sistema nervoso central das abelhas, atingindo seu sistema de orientação e navegação, determinando consequentemente uma dificuldade para retornarem as suas colônias de origem, desaparecendo assim sem deixar vestígios (Desneux, N. et all. 2007, Henry et all. 2012, Lu et all, 2012,). As abelhas normalmente apresentam vários tipos de doenças que atacam crias e adultos, porém as causas mais citadas até o momento para a perda de colônias ou desaparecimento das abelhas ou CCD tem sido: o ácaro Varroa destructor, o microsporideo Nosema ceranae, o stress causado pelo transporte a longas distâncias, ausência de pólen, ampla relação de vírus (APV-Akute paralisis, IAPV-Israeli akute paralysis vírus, DWV-Deform Wing Virus, etc.) e os pesticidas (Ratia, G. 2008) etc. Existe ainda muita polêmica sobre as causas do CCD embora trabalhos recentes publicados apontem os pesticidas como causadores do CCD existe ainda muita polêmica sobre o principal agente causador do CCD, havendo manifestações de que ocorre uma complexa interação entre vários fatores e um efeito sinergístico entre eles que determina o colapso ou desaparecimento das colônias (Pettis, J. 2011, Ritter, W. 2011). No entanto, estudos recentes publicados por Lu et all (2012), Henry et all (2012) e Whitehorn et all (2012) vinculam o fenômeno do desaparecimento das abelhas diretamente ao uso de pesticidas neonicotinóides e em especial o imidacloprid como causadores do CCD, ficando assim evidenciado que as causas principais do desaparecimento das abelhas não são as doenças nem os parasitas e sim os pesticidas neonicotinóides que começaram a ser utilizados amplamente a partir da década de 1990. No Brasil pesquisas sobre o efeito de pesticidas realizadas com abelhas africanizadas comprovaram que o Fipronil causa sérios problemas no desenvolvimento das abelhas, mesmo utilizando-se LD-50 em baixas concentrações (Silva et all. 2012). Um dos fatos que comprovam a grande preocupação que já vinha ocorrendo na Europa sobre o efeito danoso dos pesticidas nas abelhas foi, segundo Henrique Cortez (de EcoDebate Cidadania e Meio Ambiente de 30/8/2008) a proibição do Governo da Alemanha sobre o uso de oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas no estado de Baden Wurttemberg. No mesmo período foi divulgado que tanto a França como a Itália e a Eslovênia também proibiram a entrada no país de alguns neonicotinóides. Embora o fenômeno do desaparecimento das abelhas venha sendo pesquisado por muitos pesquisadores no mundo todo ,segundo declarações recentes no 6º Simpósio Apícola Nacional do Chile, em 18/8/2012, do Sr. Gilles Ratia, Presidente da Apimondia (informação pessoal), o CCD continua sendo um dos maiores problemas da apicultura mundial, com ocorrência em inúmeros países, motivo ainda de muita polêmica quanto suas causas e ainda sem perspectivas de solução. Não há dúvida que agentes patogênicos, ácaros, microsporideos, vírus e outros fatores contribuem para a fragilidade sanitária das abelhas causando redução de sua resistência a doenças, sendo em parte responsáveis pelo CCD. No entanto, é evidenciado de maneira clara, nos trabalhos publicados recentemente por Lu et all (2012), Henry et all (2012) e Whitehorn et all. (2012), os últimos dois na revista Science, a alta toxicidade e o sério dano causado pelos pesticidas neonicotinóides para as abelhas Apis mellifera e abelhas mamangavas (Bumble bees), independente das doses, reforçando a necessidade de combate a esses pesticidas. Nesse sentido recentemente também o Brasil lançou suas restrições em relação ao uso de neonicotinóides no país por meio de uma portaria do IBAMA (publicada no Diário Oficial da União de 19/7/2012). Portanto, com base nas informações aqui registradas, constata-se uma grande preocupação mundial sobre o uso de pesticidas na agricultura face ao dano causado às abelhas. O fenômeno do desaparecimento das abelhas representa um alto risco para a apicultura mundial e, consequentemente, para o agronegócio internacional uma vez que toda a produção agrícola mundial relacionada a grãos e frutos dependente de polinização principalmente pelas abelhas. É, portanto, fundamental o combate aos pesticidas neonicotinóides para que a profecia de Einstein não venha a ser realidade. Face ao exposto a CBA – Confederação Brasileira de Apicultura espera que as indústrias produtoras de pesticidas agrotóxicos se preocupem mais com os danos causados às abelhas e procurem produzir produtos mais específicos contra as pragas da agricultura porém não tóxicos às abelhas.Concluindo, a CBA manifesta-se favorável a manutenção das restrições impostas pelo IBAMA sobre o uso dos Pesticidas IMIDOCLOPRID, CLOTHIANIDINE, THIOMETHOXAM e FIPRONIL comprovados como altamente tóxicos para as abelhas e envolvidos no fenômeno do desaparecimento das abelhas em vários países, inclusive no Brasil.
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