Por que salvar as Abelhas
A drástica redução, em todo o mundo, da quantid...
Com o objetivo de conhecer melhor os polinizadores e a importância do processo de polinização no desenvolvimento da agricultura, o Projeto Polinizadores do Brasil, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, realizou pesquisas e atividades de capacitação e conscientização ao longo dos últimos cinco anos. Inserido em uma iniciativa internacional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF – Global Environmental Facility) e que tem o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio como agência responsável pela execução, o projeto concentra esforços em sete culturas importantes no Brasil: algodão, caju, canola, castanha, maçã, melão, e tomate. Planos de manejo, publicações científicas, educativas e vídeos de grande valia foram produzidos para produtores rurais e também para criadores de abelhas.
A iniciativa internacional, chamada “Conservação e Manejo de Polinizadores para Agricultura Sustentável através de uma Abordagem Ecossistêmica” reúne ainda África do Sul, Gana, Índia, Nepal, Paquistão e Quênia. Aprovado pelo GEF em junho de 2008, teve seu início em março de 2010, com duração de 5 anos e um orçamento de mais de US$ 20 milhões para o Projeto Global (desde a fase de elaboração até a implementação total), dos quais cerca de US$ 3,5 milhões destinados ao Brasil.
A organização Bee or not to be tem em seus objetivos pautar a apicultura e a meliponicultura como atividades essenciais da cadeia produtiva agrícola, e por isto estabeleceu a parceria com o Projeto Polinizadores do Brasil, para comunicar e compartilhar estes importantes estudos que não só comprovam os benefícios dos polinizadores, mas orientam os produtores rurais sobre técnicas de manejo e preservação dos polinizadores em diversas culturas agrícolas.
A polinização é o processo que garante a produção de frutos e sementes e a reprodução de diversas plantas, sendo um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da biodiversidade na Terra.
Para que aconteça, entram em ação os polinizadores, que são animais como abelhas, vespas, borboletas, pássaros e morcegos responsáveis pela transferência do pólen entre as flores masculinas e femininas. Em alguns casos, também o vento e a chuva exercem este papel.
Das espécies conhecidas de plantas com flores cerca de 88% dependem, em algum momento, de animais polinizadores. Mais de 3/4 das espécies utilizadas pelo homem na produção de alimentos dependem da polinização para uma produção de qualidade e em quantidade.
Os polinizadores contribuem para a manutenção da nossa diversidade de alimentos e qualidade de vida. Sem polinizadores não há alimento.
O Projeto Polinizadores do Brasil integra instituições nacionais em grandes redes de pesquisa, com resultados relevantes em manejo sustentável nas redes de polinização de plantas cultivadas
A cultura do algodão está entre as dez principais do mundo, e o Brasil ocupa a quinta posição, atrás de China, EUA, Índia e Paquistão. O Centro-oeste, a região Sul-amazônica e o Nordeste são as três áreas de maior expressão econômica do algodão, cultivado em pequenas e grandes propriedades. A influência positiva de abelhas é observada tanto em grandes como em pequenas áreas de produção, com aumento do número de sementes, produção por hectare e peso dos capulhos.
O uso de cercas vivas com outras espécies como o feijão guandu, prática cultural já em uso, pode servir de fonte de alimento para as abelhas. Esses insetos são os mais frequentes e principiais polinizadores dos algodoeiros. O uso de consórcios com ao menos duas outras culturas, como coentro e amendoim, aumenta a diversidade de insetos, o que pode intensificar a polinização.
O Brasil já foi o 1º produtor mundial de caju, e hoje ocupa a 5º posição: a baixa produtividade tem como uma das principais razões a perda de polinização. A média mal alcança um terço daquela registrada no mundo. Originário do Brasil, o caju foi levado por colonizadores portugueses para colônias na África e na Ásia e, hoje, a produção global supera os 4 milhões de tonelada ao ano. Abelhas são os principais polinizadores da cajucultura, concentrada no Nordeste, e que representa importante fonte de renda para agricultores da região. Abelhas do mel, espécies sem ferrão e solitárias são importantes polinizadores do cajueiro no Brasil.
O plano de manejo produzido com apoio do projeto Polinizadores do Brasil reúne práticas que estimulam a polinização, entre elas, a escolha de áreas a no máximo 1km de reservas de matas (raio de voo máximo da maioria dos polinizadores), e o plantio consorciado com outras espécies vegetais, o que aumenta a diversidade de abelhas. Também, a disponibilização de bebedouros para abelhas na época seca do ano, justamente quando o cajueiro floresce e as altas temperaturas põem em risco as abelhas. O uso de ninhos-armadilha, troncos e galhos para ninhos pode aumentar a população de insetos e, com isso, a força da polinização.
A canola foi desenvolvida nos anos 1970 no Canadá a partir do melhoramento genético da colza, o que permitiu seu consumo pelo homem (até então, era destinada a consumo animal). Hoje, com mais de 60 milhões de toneladas ao ano, é a terceira oleaginosa mais produzida no mundo, atrás da palma e da soja. É usada na fabricação de óleo de cozinha, ração animal e biodiesel. O Brasil produz cerca de 60 mil toneladas anuais, com concentração no Rio Grande do Sul, onde é uma cultura alternativa para o inverno, gerando empregos e renda. Estudos indicam que abelhas melíferas podem aumentar a produtividade em até 70%, e o consórcio com apicultores gera duplo benefício: abelhas fazem a polinização, e a canola fornece alimento para as colônias, garantindo a produção de mel.
A publicação produzida com apoio do projeto Polinizadores do Brasil indica ainda que a presença de abelhas nativas pode aumentar a produtividade da canola. Entre as práticas amigáveis a polinizadores listadas estão a manutenção de mata perto das culturas de canola, evitar queimadas em áreas em que abelhas fazem ninhos no solo, fornecer troncos para que façam ninhos, usar agrotóxicos racionalmente e plantar hortas e pomares no entorno.
A Castanheira-do-Brasil, também conhecida como Castanheira-do-Pará, é encontrada na Amazônia brasileira, e também no Peru, na Bolívia, na Venezuela, nas Guianas e na Colômbia. As amêndoas são destinadas a fins alimentícios, e seu comércio nacional e internacional existe há mais de 120 anos, com 95,8% da produção concentrada na região Norte. É um produto que gera renda para povos extrativistas, cultivado tanto em sistemas agroflorestais, em consórcio com, entre outros, cacau, guaraná, açaí e cupuaçu, quanto em monocultivo, iniciado nos anos 1980. Abelhas nativas de grande porte são as principais polinizadoras da Castanheira-do-Brasil e, sem polinização, a árvore que chega a ter até 60 metros não frutifica. Apesar de algumas espécies já serem criadas no Nordeste, no Sul e no Sudeste, ainda não há metodologia adaptada para a Amazônia. Por isso, é fundamental considerar boas práticas para manter populações locais.
No plano de manejo produzido com apoio do projeto Polinizadores do Brasil recomenda-se identificar as espécies e a localização dos ninhos nas propriedades, evitar queimadas, conservar áreas de floresta que podem fornecer alimento para os insetos. Também, evitar o uso de agrotóxicos e oferecer às abelhas troncos e blocos de madeira apropriados para ninhos.
A adaptação da maçã Eva a regiões mais quentes criou uma nova oportunidade econômica na região da Chapada Diamantina. Contudo, a escassez de polinizadores nativos tem impacto negativo sobre qualidade e quantidade de frutos. O Plano de Ação participativo para a conservação dos polinizadores na Chapada Diamantina detectou que o manejo adequado de polinizadores, especialmente da abelha de mel africanizada, reduz este déficit. A adição de abelhas sociais nativas junto às africanizadas aumenta a produção de sementes e frutos, indicando a importância da diversidade, e que a abelha exótica africanizada não substitui os polinizadores nativos.
O cultivo da maçã Eva em áreas com temperatura mais elevada possibilitou o estabelecimento de novos polos produtores e, hoje, é a variedade mais cultivada em Minas Gerais; enquanto os polos da Bahia (região da Chapada Diamantina) e Pernambuco são considerados de grande potencial produtivo e comercial no Nordeste, em comparação com variedades tradicionalmente comercializadas como ‘Gala’ e ‘Fugi’, que representam 90% da área plantada no Brasil. A produtividade na Chapada Diamantina atingiu 22 ton./ha. em 2012, enquanto em Piedade do Rio Grande (PE) atinge 40 ton./ha.
O Brasil é o 11º produtor mundial de melão e, segundo dados da Embrapa, exporta a cada ano 180 toneladas para países como Espanha, Holanda e Inglaterra. Essa produção é particularmente importante para o Nordeste, onde gera renda e empregos também entre pequenos produtores. Para assegurar a produtividade e a qualidade nas culturas da região, é fundamental a introdução de colônias de abelhas melíferas nos plantios. Quando há baixa polinização, os frutos são pequenos e deformados.
O plano de manejo produzido com apoio do projeto Polinizadores do Brasil reúne práticas para maximizar os serviços prestados pelas abelhas melíferas. Manter a vegetação nativa no entorno garante o alimento dos insetos quando os meloeiros não estiverem na fase de floração. A aplicação de agrotóxicos para controle de pragas e doenças, quando necessária, deve ser feita no fim da tarde ou à noite, já que é pela manhã que acontece o pico de presença das abelhas. Após as pulverizações, as visitas desses insetos caem até 70%. Como elas podem se tornar agressivas com ruídos altos e movimentos bruscos, as colmeias devem estar a no mínimo 300 metros da passagem de pessoas e animais.
O Brasil é o 9º. produtor mundial de tomates, com 9 milhões de toneladas a cada ano. O cultivo do tomateiro é portanto de grande importância econômica no país. Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro concentram 70% da produção. Os tomateiros podem se autopolinizar, mas, com a visita de abelhas, a frutificação pode subir até 12%, os tomates pesam até 41% a mais e geram 11% a mais de sementes. Contaminações provocadas pelo uso indiscriminado de agrotóxicos diminuem a população de abelhas, o que resulta em menor produtividade e qualidade.
O plano de manejo produzido com apoio do projeto Polinizadores do Brasil identifica as espécies de abelhas presentes nos diferentes biomas em que o tomate é plantado, lista as que são mais eficientes e as necessidades específicas de cada uma delas. Apenas as abelhas que provocam vibração são eficientes polinizadoras do tomateiro. As de mel, por exemplo, não têm um papel importante nesse processo, no caso dessa cultura. A publicação traz ainda uma lista de 38 espécies de plantas que fornecem alimento complementar às abelhas, e cujo plantio perto dos tomateiros é muito importante para o manejo dos insetos.
Para garantir que os serviços prestados pelos polinizadores continuem na agricultura, é necessário conhecer melhor os fatores que influenciam as populações desses animais. Onde não há polinizadores, a segurança alimentar pode ser comprometida, diminuindo a produtividade das culturas, com efeito negativo sobre a economia.
É muito importante identificar e usar práticas de manejo sustentáveis que diminuam os impactos negativos causados pelo homem sobre os polinizadores, promover a conservação e a diversidade de polinizadores nativos, e conservar e restaurar áreas naturais necessárias para otimizar os serviços de polinizadores nas áreas agrícolas.
Os resultados do Projeto Polinizadores do Brasil contribuem para a conscientização de agricultores e da população em geral sobre a importância da conservação e uso sustentável dos polinizadores para garantir, entre outros benefícios, a melhoria da qualidade e quantidade da produção agrícola e do rendimento econômico.
Conservar áreas naturais, mantendo a vegetação nativa próxima à área de cultivo.
Criar um canal direto de contato com os criadores de abelhas. A Instrução Normativa Conjunta do MAPA No.1 (DOU 04/01/2013), indica que é responsabilidade dos produtores rurais avisarem aos apicultores presentes num raio de 6Km da cultura, e com 48hs de antecedência, sobre atividades de pulverização aérea.
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