Pulverização pode ser a causadora de mortandade de abelhas
Nos últimos cinco anos, Celso Jacon afirma que houve grande mortandade delas nas colmeias em Lençóis Paulista, mas que a causa ainda é desconhecida |
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Rita de Cássia Cornélio | |
01/05/2016 07:00 Durante quase 30 anos, o ambientalista Celso Jacon criou abelhas em dois pontos distintos da cidade de Lençóis Paulista. Nos últimos cinco anos, ele assistiu um espetáculo desastroso, a mortandade das abelhas. “Eu perdi dois apiários em dois anos. No prazo de uma semana morreram todas as abelhas. Eu tinha 35 colmeias. Em cada uma delas havia 80 mil abelhas.” Até hoje ele não confirmou o motivo da mortandade. “Procurei inúmeros órgãos e não confirmei o que causou a mortandade de abelhas. Eu não tenho cálculo dos prejuízos. Tudo que fiz em apicultura foi com material reaproveitado e com madeiras que reaproveitei. Não investi. A apicultura é uma ciência, uma profissão que, ou você se arrisca, ou não faz.” A mortandade de abelhas não é novidade. Nos anos de 2013 e 2014 muitos apicultores perderam seus apiários em Bauru, região e no mundo. Nessa época, os cientistas americanos desenvolveram estudos que mostram o que causa a mortandade de abelhas. Na Unesp de Rio Claro, um estudo também foi desenvolvido. Jacon explica que as abelhas ficam desnorteadas e não voltam para as colmeias. “Este é o principal sintoma. Os enxames vão enfraquecendo. Com um número pequeno de abelhas não acontece o aquecimento das larvas de cria. Com isso morrem as ‘crias’ e começa a aparecer um tipo de mosquito preto, não identificado. Daí para frente os enxames acabam. Encontrei muitas abelhas mortas.” O ambientalista explica que, quando as abelhas se desnorteiam, não voltam para as colmeias. “E não dão continuidade aos processos dentro das colmeias. Do nascer, daquelas que vigiam, trabalham. Eu penso que as campeiras ficam desnorteadas e daí começa o definhamento do enxame.” Nos Estados Unidos a Desordem do Colapso das Colônias (Colony Collapse Disorder (CCD) dizimou cerca de 10 milhões de colmeias, no valor de US$ 2 bilhões, nos últimos seis anos. Os cientistas tiveram dificuldade em encontrar aquilo que disparava o gatilho do colapso. Eles descobriram que determinadas substâncias químicas chamadas neonicotinóides tem sido associada à morte de abelhas. Os órgãos reguladores da Europa nessa época proibiram o uso de inseticidas por dois anos, porque a população de abelhas também despencaram por lá. O cientista Dennis vanEngelsdorp disse na época que é preciso ter um novo olhar sobre as práticas de pulverização agrícola. O estudo descobriu que as abelhas norte-americanas, que são descendentes das europeias, não trazem para casa o pólen das culturas nativas, mas coletam em ervas daninhas e flores silvestres próximas. O pólen dessas plantas, no entanto, também estava contaminado com pesticidas, mesmo não sendo alvo de pulverização. No Estado de São Paulo, uma parceria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal de São Paulo (UFSCar) e o Sindicato das indústrias de Defensivos Agrícolas, na época, reunindo pesquisadores como o biólogo Osmar Malaspina propiciou um estudo sobre o impacto dos agrotóxicos nas abelhas. Para ele, a morte de grande quantidade de abelhas em tempos reduzidos, exemplo em 24 horas, é indicativo de que pode ter sido provocada pelos defensivos. A linha de pesquisa tem como objetivo estudos comportamentais relacionados à interação abelha-planta e a biologia e controle de insetos sociais, abordando os principais aspectos dos efeitos tóxicos do néctar e do pólen das plantas. O estudo ainda não foi concluído. Sobrou quase nada Um dos apiários de Celso Jacon estava em um sítio nos arredores de Lençóis Paulista. “Ficava no sítio Marimbondo próximo de um remanescente de cerrado, no final da Vila Ubirama. Ali morreu o apiário todo. O outro começou a apresentar os sintomas também. Estava instalado no Sítio Bom Jardim. Quando percebi o que estava acontecendo, pedi a uns amigos que levassem para outro local. O que deixei por lá, alguns apetrechos, estrutura e três enxames foram levados pela última enchente. Os dois apiários que perdi eram de abelhas Ápis Melífera, também conhecida como abelha Europa. Seus ninhos são colônias, ou colmeias.” Ele alega que dos cerca de 30 apiários sobrou quase nada. “Não tenho muitas abelhas. O que eu tenho de mel são produções antigas. Eu penso que se não atentarmos, voltarmos para essa direção e saber o que está ocasionando isso em breve não teremos mais muitos alimentos que dependem da polinização feita pelas abelhas. Exemplo: a laranja, o melão, a abóbora. Frutas nativas do cerrado, gabiroba, pitanga, marmelo-araçá. Ela fecunda a flor para que possa surgir o fruto.” Ele acha que existe algum defensivo que faça as abelhas perderem a orientação. “Todos os apicultores sabem que a abelha é um ser extraordinário na capacidade de se localizar. Eu penso que são os defensivos usados nas lavouras da nossa região. Não só isso. Com o aumento dessas lavouras da monocultura ficaram poucas áreas com vegetação nativas.” Pulmão de Lençóis Na cidade de Lençóis Paulista tem um remanescente de cerrado que começa próximo da Vila Ubirama e vai até o Lago da Prata. Um corredor que vive na mira da especulação imobiliária. “Eu penso que um dia haverá uma sociedade mais evoluída e que o progresso sem harmonia seja considerado regresso.” Essa área é considerada o pulmão da minha cidade, na opinião do ambientalista. “Se eu pudesse transformaria em um bosque municipal. Uma área para estudo de diversidade, área de recarga de aquífero. Ela dá o equilíbrio térmico. São coisas que o homem está deixando de perceber.”” Fonte: http://www.jcnet.com.br/Regional/2016/05/pulverizacao-pode-ter-matado-abelhas.html |
Saiba mais sobre o desaparecimento das abelhas no site da Campanha Sem Abelha Sem Alimento.
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