Journal of Chemical Ecology publica estudo com voláteis florais feito nos arredores do campus da UNICAMP
Aluna do Instituto de Biologia investigou o papel de atração de compostos químicos florais junto a abelhas carpinteiras
TEXTO: LUIZ SUGIMOTO | FOTOS: ACERVO JORNAL DA UNICAMP, CARLOS NUNES, VIVIAN ZAMBON | EDIÇÃO DE IMAGEM: RENAN GARCIA
Um trabalho investigando o papel de atração de voláteis florais junto a abelhas nos arredores da Unicamp acaba de ser publicado pelo Journal of Chemical Ecology. Ele é resultado da pesquisa de Gabriela Rabeschini, do Instituto de Biologia, iniciada ainda durante a sua graduação. O pesquisador Carlos Eduardo Pereira Nunes, que orientou o estudo, explica que foi feita uma revisão da literatura e análises estatísticas para obter uma lista de compostos que podem ser importantes na comunicação entre plantas e um emblemático grupo de polinizadores no Brasil e no mundo, as mamangavas ou abelhas carpinteiras (Xylocopa spp).
Segundo Gabriela Rabeschini, hoje mestre em Ecologia, os sinais olfativos constituem um dos canais de comunicação mais importantes entre as plantas e seus polinizadores. “Compilamos voláteis florais de 29 espécies de plantas: nove polinizadas por abelhas carpinteiras e 20 por outros grupos funcionais de abelhas. Testamos se a emissão de voláteis florais diferia entre esses grupos. Sete deles foram significativamente associados à polinização da abelha carpinteira”.
Carlos Nunes acrescenta que, com esta lista de substâncias candidatas em mãos, duas delas foram testadas nos arredores do campus, a fim de verificar se eram de fato atrativas às abelhas e se havia alguma especificidade nesta atração. “Verificamos que enquanto um dos compostos não atraiu significativamente nenhum grupo de polinizador, o outro, denominado beta-ionona, atraiu tanto as mamangavas como outros grupos de abelhas, mostrando-se um atrativo de abelhas não-específico.”
Grande parte das aplicações de pesquisas relacionadas à área da ecologia química, observa Gabriela, buscam identificar compostos com importância comportamental (que atraem ou repelem insetos, por exemplo) para que sejam posteriormente sintetizados artificialmente e comercializados. “Porém, mais do que produzir e mercantilizar, entender os mecanismos químicos nas interações inseto-planta nos permite melhorar técnicas de manejo sustentáveis, utilizando espécies com as características químicas adequadas para obter os efeitos ecológicos desejados.
Para a ecóloga, a utilização de espécies vegetais que produzam o beta-ionona entre seus compostos florais é um exemplo que se encaixa perfeitamente para o planejamento de ecossistemas agrícolas ou no paisagismo de áreas como o campus da Unicamp, caso o interesse seja atrair abelhas de grande porte, como as carpinteiras, ou abelhas coletoras de perfume. “Uma estratégia possível é identificar quais espécies de plantas produzem a beta-ionona entre seus compostos florais e, dentre esta lista de espécies, selecionar as que se adequam melhor aos objetivos do plantio, sejam para produção agrícola ou ornamentação, levando em consideração outras características como longevidade e forma de crescimento.”
A autora da pesquisa esclarece aos leigos que as flores são os órgãos reprodutivos das plantas, e podem sofrer seleção natural para características que aumentem o sucesso reprodutivo. “Porém, diferentemente dos animais, cujo display sexual é normalmente apresentado para outros indivíduos da mesma espécie, os displays sexuais das plantas normalmente sinalizam para intermediários animais, que agem como transportadores dos gametas das plantas de um órgão sexual para outro. Isso significa que, entender a evolução dos sinais florais, também requer conhecer a ecologia sensorial dos seus agentes polinizadores.”
Toda flor tem um padrão particular associado a uma série de pistas sensoriais como cor, tamanho, formato e odor (voláteis florais), prossegue Gabriela. “O que faz os voláteis florais serem uma característica tão importante para a polinização é a relevância que a comunicação química tem para o grupo dos insetos, que são a grande maioria dos visitantes das espécies agrícolas. A aguçada habilidade de percepção de compostos químicos pelos insetos permite que os voláteis florais sejam favoravelmente usados como moléculas sinalizadoras quando surgem associados a recursos florais como pólen e néctar.”
Demanda por polinizadores
A pesquisadora informa que aproximadamente 85% das principais culturas de maior produção global (115) se beneficiam de alguma forma com o processo de polinização biótica. “Mas os agentes polinizadores podem não só aumentar a produção final total, como também melhorar a qualidade da cultura, seu tempo de viabilidade comercial e, consequentemente, seu valor de mercado. Além disso, muitos dos cultivos mais dependentes de polinizadores também estão entre os alimentos mais ricos em micronutrientes vitais à saúde humana, principalmente das populações mais vulneráveis.”
As áreas agrícolas cultivadas com culturas dependentes de polinizadores dobrou entre 1961 e 2008, o que também aumenta a demanda pelos serviços de polinização. “Por outro lado, há evidências cada vez maiores de que muitas populações de abelhas, que são polinizadores importantes mundialmente, estão declinando, sofrendo limitações geográficas ou até sendo extintas. Além disso, o desmatamento contínuo e a degradação da terra podem acelerar o declínio na abundância e na diversidade de polinizadores selvagens, como as abelhas carpinteiras, que podem ser polinizadores mais eficientes que as abelhas manejas”.
A preocupação global com o desaparecimento das abelhas, finaliza Gabriela Rabeschini, surge da disparidade cada vez maior entre a demanda agrícola por polinização e a capacidade de polinizadores manejados e selvagens de prestar esse serviço. Isso mostra que as práticas agrícolas atuais podem não sustentar o crescimento na produção das safras dependentes de polinizadores, justamente por contribuir com o declínio da população de polinizadores.”
Matéria retirada do site JORNAL DA UNICAMP.
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